Como uma introdução da Conferência Digital Media América Latina, da WAN-INFRA, o Weblog do Editor conversou com Gastón Roitberg, editor multimídia do La Nación, sobre os "ninjas de dados abertos" premiados e qual o papel que os dados tem na formação do futuro do jornalismo. Uma transcrição editada da troca de emails está abaixo.
WAN-INFRA: La Nación trouxe o jornalismo de dados para a frente de suas operações, e até mesmo criou uma seção de dados na barra de navegação principal do seu site. Qual foi a lógica por trás dessa decisão?
Gastón Roitberg: No La Nación, consideramos o jornalismo de dados um projeto de prioridade, não só porque é uma tendência de inovação na nossa profissão, mas também porque acreditamos que os cidadãos deveriam poder exercer o direito de acesso à informação pública.
How many people are on the data team today? What is the breakdown of reporters, developers, analysts, designers, etc.?
Atualmente, LN Data é uma equipe multidisciplinar, consistido de um gerente de projeto, um especialista em pesquisa e tendência, um pesquisador de dados, um engenheiro em sistemas que junta os dados e os transforma em formatos legíveis, um time de três designers interativos e vários jornalistas. Nós também temos o apoio de um sócio da Knight-Mozilla até o fim de 2013.
O quão próximo estão a reportagem, multimídia e processos técnicos?
Eles estão muito ligados através de um fluxo de trabalho que vai desde juntar os dados, redefinir o conjunto de dados, estruturar as planilhas de Excel até o desenvolvimento de aplicações e visualizações interativas. Cada especialidade traz conhecimento e projetos são organizados em diferentes níveis envolvendo todos aqueles que podem contribuir para fazer um produto melhor.
Em projetos grandes do LN, como o dos gastos do Senado, como as responsabilidades são divididas?
As responsabilidades são bem divididas. Uma equipe de três ou quatro pessoas é responsável pela busca, agrupamento e estruturamento dos dados, procurando algum padrão que possa guiar a análise jornalística. Então essa base estrutural chega nas mãos do jornalista que usa os dados para encontrar histórias de interesse do público. Aí entra a equipe dos designers interativos que desenvolvem interfaces para que os usuários possam transitar facilmente pelos dados.
Como o LN apurou a grande quantidade de dados no projeto dos gastos do Senado? Quais partes desses processos são automáticas no computador e quais são manuais?
A maneira mais eficiente de analisar dados é colocar um analista que combina variáveis e desenvolve uma maneira fácil do jornalista navegar pelos dados.
A busca é feita por robôs que automatizam a tarefa de apurar volumes enormes de dados. Programas são usados também para transformar arquivos PDF, os mais odiados entre os programadores, para tabelas .xls ou .cvs, permitindo que eles sejam estruturados. Tableau Software é usado para desenvolver gráficos interativos. E para desenvolver mapas com diferentes camadas baseadas nos dados, temos experiência com o Google Fusion Tables.
Como as equipes evitam erros e verificam informações quando estão lidando com grandes conjuntos de dados?
Há duas maneiras de fazer uma verificação eficiente dos dados nas enormes bases de dados que lidamos para grandes assuntos como o orçamento nacional: 1) Consultar especialistas em cada um dos assuntos para detectar irregularidades e arrumar os conjuntos de dados, 2) Desenvolver uma sessão especial chamada "chequeaton" (traduzida como "chegar os dados manualmente", com voluntários de ONGs.
O setor de dados do LN publica artigos diariamente, apesar do jornalismo de dados ser tipicamente um esforço mais longo. Como o LN mantém a saída? Como o LN equilibra os projetos de dados com as demandas diárias de notícias?
Jornalismo de dados é perfeitamente aplicável às últimas notícias. Na verdade, nós chamamos de últimos dados, que é quando nós pegamos a informação, a estruturamos e desenvolvemos mapas que contam a mesma história. Adicionar gráficos interativos a artigos de jornal é um esforço recompensado pelo acesso dos usuários.
A Argentina não tem uma lei de liberdade de informação, como o seu time lida com os desafios de obter dados? Quanto tempo vocês geralmente tem que esperar para receber os dados depois de solicitá-los?
A Argentina não tem lei de transparência e acesso à informação pública, mas se orgulha de um decreto presidencial pelo qual os funcionários do poder Executivo e outros poderes do Estado são obrigados a fornecer informações sobre seu patrimônio. Recentemente, nós indicamos um produtor de dados que visita diferentes ministérios e secretarias para requisitar informações que consideramos relevantes. Nós geralmente temos que esperar vários meses para que a informação seja entregue, e na maioria das vezes, ela é entregue em um formato inapropriado ou diretamente em papel, o que requer trabalho braçal para digitalizar os dados.
É interessante que o LN compartilhe seus recursos primários com leitores via DocumentCloud. Por que o LN decidiu fazer isso?
Além do jornalismo de dados o outro grande objetivo é promover informações abertas. Nós temos um repositório de conjunto de dados em um catálogo caracterizado por tecnologia Junar. Também utilizamos outras ferramentas para armazenar e compartilhar documentos como o DocumentCloud ou o conjunto de produtos do Google. Assim, outros jornalistas e usuários podem baixar os arquivos originais para iniciar suas próprias investigações.
Que dicas você daria à organizações de notícias que consideram criar suas próprias equipes de dados?
O melhor conselho que podemos dar é encorajá-los a seguir o caminho da inovação, investimento em treinamento para suas equipes e promover trabalho em equipe com universidades e especialistas em tecnologia e organizações sem fins lucrativos. Além disso, promover o contrato de programadores e especialistas em tecnologia para integrar as redações.
Por que o jornalismo de dados é importante? Que papel você acha que os dados terão no formato do jornalismo no futuro na América Latina?
O jornalismo de dados é uma fase na evolução do jornalismo investigativo. Cada pedaço de informação pode ser analisado, estruturada e observada como lentes de aumento para se encontrar uma reportagem em potencial de interesse jornalístico. Os prêmios Pulitzer do New York Times por trabalho interativo e da ProPublica por pesquisa em base de dados demonstram que excelência jornalística é possível nessa fase da evolução.
Com os cortes de orçamento nas redações, qual é o motivo para se investir em jornalismo de dados como o LN fez?
Inovação é o melhor antídoto para enfrentar a crise da indústria. Investir em criatividade, pesquisa e desenvolvimento é o que vai permitir a mídia como um negócio prevalecer e manter seu lugar relevante hoje em sociedades democráticas. Jornalismo de dados resgata os valores do jornalismo investigativo tradicional e adiciona contribuições singulares de tecnologia para processar a informação disponível de forma inteligente.
Roitberg vai falar mais sobre o LN Data durante uma palestra sobre reportagem inovadora na conferência da WAN-IFRA Digital Media América Latina, de 30 a 31 de outubro em Bogotá, Colômbia. Para mais informações e para se inscrever no evento, clique aqui.