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"Estamos sempre buscando pontos nos quais possamos melhorar": Perguntas e Respostas com Marta Gleich do jornal Zero Hora

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"Estamos sempre buscando pontos nos quais possamos melhorar": Perguntas e Respostas com Marta Gleich do jornal Zero Hora

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18689

Artigo traduzido com o apoio do Grupo RBS

"Isso significa", ela acrescenta, "que, desde 2014, a redação de ZH começou a entender que seus processos, seus produtos e até mesmo sua estrutura estão em um estado 'beta permanente'. Em outras palavras, sabemos que jamais chegaremos a um ideal. Exatamente o oposto. Estamos constantemente buscando pontos nos quais  possamos melhorar", continua Gleich.
 
Com uma redação de 209 jornalistas e uma circulação impressa e digital comprovada de 197.010 (somente impresso é aproximadamente 162.000 e digital conta apenas os usuários com login), Zero Hora hoje encontra-se em rápido crescimento, inclusive na versão para mobile.
 
Nesta entrevista por e-mail, que formou a base de nossa reportagem de capa de março/abril de 2015, Gleich, que também irá palestrar no World News Media Congress, em Washington D.C. (1 a 3 de junho), falou a respeito das mudanças que Zero Hora realizou em sua redação no último ano, além do conceito "beta".
 
WAN-IFRA: Quais são alguns de seus planos e metas principais para a redação de Zero Hora neste ano?
 
Gleich: Os principais planos e metas de Zero Hora para este ano podem ser divididos em três tópicos. O primeiro e mais importante para 2015 - e para sempre - é produzir jornalismo de qualidade. Nessa época preocupante para a indústria de comunicação, é importante lembrar nosso propósito e nosso valor para a sociedade. Nesse sentido, reorganizamos a redação para termos maior produção de conteúdo local, que é como nos diferenciamos de outros veículos.


Além disso, expandimos a organização e o planejamento de reportagens especiais e investigativas, propiciando ao jornalista o tempo necessário para produzir esse conteúdo, que dá relevância e credibilidade à marca Zero Hora. Criamos um processo rígido para monitorar o progresso de reportagens especiais ou investigativas.


Temos uma equipe dedicada para realizar jornalismo investigativo, à qual cabe pensar, planejar e executar as reportagens com um alto grau de impacto entre os leitores.
Essa equipe encoraja o debate sobre técnicas de infiltração, bases de dados e o uso da Lei de Acesso à Informação para toda a redação. Vale a pena notar que, para 2015, planejamos reportagens investigativas que serão feitas em colaboração com jornais brasileiros de grande circulação em outras capitais e também com a participação de estudantes de jornalismo de universidades locais.


O segundo grande objetivo abrange a área digital, com ênfase em celulares e vídeo. A redação está se esforçando para descobrir formatos e conteúdos que criam uma excelente experiência em mobile, mesmo que haja limites em relação à plataforma de publicação.


Trabalhamos com o departamento de Desenvolvimento de Produtos para melhorar nosso site, a versão mobile e nossos aplicativos, para garantir que o usuário de mobile, cada vez maior, seja bem atendido. Para produzir vídeos melhores e em maior número, reestruturamos a equipe de imagens (fotógrafos e editores de vídeo), garantindo prioridade para a produção de vídeos. Nosso objetivo é aumentar a produção de conteúdo de vídeo em 50% em relação ao ano passado.

Definimos quatro formatos básicos que orientam repórteres e fotógrafos quanto à definição das produções diária e especial: vídeos espontâneos, feitos por repórteres e leitores, produzidos na rua com um celular, mandados por leitores, sem edição; vídeos de opinião e comentários de colunistas, gravados na redação, com edição simples; vídeos de reportagens diárias, que requerem uma edição e produção mais elaboradas; e, finalmente, vídeos especiais com estilo documentário digital, que necessitam uma linguagem especial.


Nossa audiência digital cresceu 19% em 2014, e, para 2015, nosso objetivo é crescer 40% em relação ao ano passado. Estamos também tentando fazer com que a audiência permaneça por mais tempo, leia mais material por visita e, naturalmente, compartilhe nosso conteúdo em redes sociais.


O terceiro objetivo do ano é voltado para a produtividade. Com equipes escassas e a necessidade de produzir novos formatos, como o vídeo e conteúdo para diversas plataformas, os jornais precisam buscar fazer mais com menos.
Estamos medindo algumas coisas na redação, tais como o número de páginas editadas por editor, o número de textos publicados por repórter e o número de vídeos produzidos por dia.


O objetivo não é tornar as coisas burocráticas ou criar relatórios inúteis, mas garantir que estamos produzindo a maior quantidade possível de conteúdo interno de qualidade com a equipe que temos.
 
Como estão promovendo a inovação dentro da redação?

Como é comum em empresas de tecnologia, o conceito 'beta' permeou nossas iniciativas de trabalho. Em outras palavras, nós sabemos que jamais chegaremos a um ideal. Exatamente o oposto. Estamos constantemente buscando pontos nos quais podemos melhorar.


Esse valor foi incorporado à cultura, com uma mudança importante no nosso modo de pensar. Como a equipe entende que um novo produto pode ser lançado e então melhorado com base no retorno ou, se necessário, até mesmo descontinuado, o ambiente se torna mais livre para aqueles que querem criar novos projetos. Há uma maior tolerância a erros (não quando se trata de informação jornalística, claro!). Além do incentivo a esse espírito, a redação trabalha intimamente com os outros departamentos da empresa, como o Desenvolvimento de Produtos Digitais e com o Comercial, com diálogos constantes sobre projetos que se beneficiam com a colaboração de profissionais com diferentes perspectivas.


Vale a pena notar que, em 2015, treinamos e reestruturamos a equipe responsável pela produção de projetos digitais especiais.

O grupo trabalha com diferentes repórteres e editores para cada projeto. A sua missão é buscar formatos inovadores nos quais design, programação e conteúdo podem ser explorados tanto quanto possível, para garantir produtos surpreendentes para os leitores. O grupo participa de cada passo do processo, desde a ideia inicial até o monitoramento dos resultados de cada projeto.
 
Como Zero Hora ajuda a dar voz aos leitores em seu jornal (tanto impresso quanto online)?

Desde 2013, com a unificação das equipes de edição responsáveis pela página dos leitores na versão impressa e da interação com os leitores em redes sociais, começamos a ganhar uma visão mais ampla da participação de leitores em nossos produtos.


Em 2014, modificamos a política de comentários para nosso material em ambientes digitais: eles são agora publicados sem moderação prévia. Nós acreditamos fortemente que a participação de leitores é fundamental para criar um produto melhor: comentários frequentemente geram novas reportagens, por exemplo.


Nossa equipe não só tem de compartilhar nosso conteúdo nas mídias sociais, mas eles têm de ler os comentários e interagir constantemente com os que nos seguem por meio dessas plataformas. Encorajamos todos os repórteres a fazer o mesmo, pois interagir com os leitores não é um papel que deva ser restringido a um único grupo de pessoas. Assim, instruímos os repórteres a responder aos comentários em seu material e a interagir com os leitores.


Também planejamos diversas atividades nas quais o conteúdo é formado exclusivamente pela opinião e participação dos leitores, especialmente no âmbito digital. Essa participação é refletida no impresso, onde esse conteúdo também é comumente publicado.
 
Quais são algumas das principais questões com que se preocupam publishers da América Latina hoje em dia?


Em termos de liberdade de imprensa na América Latina, só é possível dizer que tem havido um retrocesso significativo em alguns países, especialmente a Venezuela, o Equador, a Bolívia e a Argentina.

Em maior ou menor intensidade, principalmente por meio de legislação e regulação autoritárias aprovadas nos últimos anos, os governos tentaram enfraquecer o sistema de comunicação profissional para afetar sua independência. Até mesmo no Brasil, onde a regra é a liberdade de expressão, o governo planeja começar a discutir novas regulações da mídia, encorajada primeiramente por setores e políticos de esquerda.


Outro grande desafio - e isto não é um problema apenas na América Latina - é encontrar modelos empresariais sustentáveis, com novas fontes de renda e despesas que estejam sob controle, com altos níveis de produtividade.

Porém, apesar dos desafios, há grandes oportunidades, oriundas do crescimento do consumo de notícias, do crescimento da classe média no Brasil - um grupo enorme de pessoas sedentas por informação e serviços - e de uma grande porção da população com acesso a smartphones. Empresas de comunicação que souberem como criar produtos digitais interessantes e novas fontes de renda têm uma grande oportunidade.
 



Marta Gleich será palestrante no World Editors Forum na terça-feira, 2 de junho, durante uma sessão denominada "The multi-platform newsroom" [A redação multiplataforma] , como parte do 67º World News Media Congress, 22º World Editors Forum e 25º World Advertising Forum em Washington D.C. Para mais detalhes da programação e para inscrições, clique aqui

Author

Rodrigo Bonilla's picture

Rodrigo Bonilla

Date

2015-04-02 16:49

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